terça-feira, 12 de junho de 2012

ACORDA POVO DO REINO!


Era uma vez um reino que era tido como o melhor lugar para se viver.
Onde fica este reino? Em que época ele existiu? Há muito tempo? Será que ainda existe? Chega de perguntas! Uma estória que começa com “era uma vez” não é real. Então, caro leitor, não procure relacionar o que aqui será escrito com algum lugar ou governo. É meu dever dizer que qualquer semelhança com fatos, atuais ou passados, com pessoas ou governantes, com países, estados, municípios, reinos ou feudos, enfim, toda semelhança será mera coincidência. Dito isto, voltemos ao “era uma vez”.
Como disse, era uma vez um reino que era tido como o melhor lugar para se viver. As pessoas dos reinos vizinhos queriam para lá se mudar. Muitas tentavam alcançar este tão sonhado objetivo e, quando conseguiam, geralmente acompanhadas por suas famílias, era motivo de extrema felicidade.
O número de habitantes do valorizado reino crescia vertiginosamente. A superpopulação causava vários problemas. As ruas não estavam preparadas para tantos prédios. Sim, eram prédios mesmo. Na verdade, arranha-céus. Afinal, estamos diante de um reino moderno. Assim sendo, o número de automóveis multiplicou-se em pouco tempo. Mas ninguém reconhecia os congestionamentos, que daí decorriam, como algo a preocupar. Afinal, as pesquisas estavam certas e o resultado das mesmas era inquestionável: viviam no melhor lugar para se viver.
Todo mundo sabia que neste reino estavam as melhores escolas, e este era um dos principais atrativos para os novos habitantes que acabavam de se mudar. Então, quando viam que as crianças tinham muitas aulas vagas, pois faltavam professores, que mudavam de emprego por conseguirem melhores salários nos reinos vizinhos, ninguém dava importância, isto porque as pesquisas não podiam estar erradas.
Que bom era viver cercado de pesquisas e notícias positivas! A saúde, por exemplo, diziam os números, era de excelente qualidade. Que relevância tinha a transferência de pacientes nas situações mais críticas para os reinos vizinhos, onde podiam contar com melhores condições hospitalares? Nada importava, pois os indicadores que refletiam o desenvolvimento humano e melhores condições de vida, todos eles estavam dançando nas alturas. A felicidade imperava, principalmente entre as empresas do ramo que, em um ritmo frenético, cuidavam de construir mais e mais arranha-céus para abrigar os novos e sorridentes habitantes do melhor reino do mundo.
Quem para lá se mudava, sentia-se diferenciado, pertencente a uma classe superior. O valor dos imóveis não parava de subir...
Pronto! Para uma estória que começou com “era uma vez”, eis que chegou o momento de colocar o “viveram felizes para sempre”. Mas se você, estimado leitor, pensa que tudo vai acabar bem, conforme o figurino, então está completamente enganado...
Tudo seguia perfeitamente até que, em uma noite fria e sombria, ocorreu um terrível colapso no sistema de esgoto do reino. Um gigantesco refluxo de dejetos humanos invadia as residências. Era nojento, muito nojento. O odor era simplesmente insuportável...
O povo do reino, em meio a tanta porcaria, acordando-se uns aos outros naquela fria e insuportável madrugada, enquanto procuravam limpar ou fugir do caótico estado em que se encontravam, eis que começaram, pela primeira vez, a reclamar de todos os problemas que os atingiam. Principiaram por resmungos tímidos, mas, a cada inalada dos pesados e fétidos odores que os envolviam, as vozes se levantavam mais e mais. Até que tomaram a forma de um clamor coletivo. Basta, basta, basta! Se o primeiro “a” fosse trocado por um “o”, também seria válido... Deixando de lado esta brincadeira, que talvez não tenha caído bem, mas pela qual sucumbi, devo agora encerrar este texto com uma frase de efeito: “E então, enfim, naquela fria e imunda madrugada, o povo do reino acordou”.
ACORDA POVO DO REINO!