quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MEU MODO DE VER O MUNDO – PARTE 6 LEAGUE OF LEGENDS

Fui no “Campus Party”. Trata-se de um evento direcionado aos fanáticos em videogame. Não sou fanático, mas devo confessar que meu filho, com seus 13 anos, não consegue pensar em outra coisa. Então, a motivação inicial que me fez enfrentar este evento foi a de estar junto ao meu garoto. Não basta ser pai, tem que participar.
Adiantamos o almoço do sábado e saímos pouco depois do meio-dia. No carro, eu mais parecia motorista de táxi, pois o banco da frente estava vazio. Lá atrás, o meu filho e um amigo seu, logicamente também ligadão em games. Entusiasmados, conversavam animadamente, tentando adivinhar quais seriam as promoções que estariam em jogo. Inventavam que determinada empresa daria um computador último tipo, sonho de consumo para qualquer gamer. Seria tudo muito fácil... Ei, você aí! Você ganhou um computador da marca tal, modelo tal... Dariam também placas de vídeo, tudo do bom e do melhor. E assim por diante... Acho que sabiam que estavam exagerando, mas tenho certeza que desejavam, do fundo dos seus cibernéticos corações, que todas estas inocentes imaginações se concretizassem...
Trinta reais de estacionamento. Um roubo. No Anhembi é assim mesmo, nenhuma novidade. Mas a surpresa veio na entrada: catracas liberadas. Na verdade, não foi surpresa. Meu filho já havia dito que o evento seria gratuito. Porém, uma coisa é saber e a outra é viver, sentir a experiência de passar livre e gratuitamente por uma catraca que, muitas outras vezes, só nos permitiu a passagem após a compra do ingresso: outro roubo.
Lá dentro, a quantidade de estandes não era muito grande. Logo foi possível identificar o principal motivo. O mapa do Campus Party indicava que metade do pavilhão estava tomada pelo acampamento. Não conseguimos ver esta parte, mas acredito que seria uma cena totalmente pitoresca olhar, de cima, aquele mar de barracas...
Nenhum dos estandes prendia a atenção do meu filho e seu amigo. Foram seguindo em frente, sabiam o que procuravam. Até que um grande telão apareceu, cercado por uma multidão de jovens espectadores, boa parte deles em uma arquibancada, outros sentados em cadeiras formando uma enorme plateia e, ainda, em volta, havia muitos em pé... Foi entre estes em pé que, inicialmente, ficamos.
A vibração é intensa. Em duas grandes mesas, montadas em um palco e voltadas para o público, espalham-se os dez jogadores, cinco de cada equipe. Cada um por trás do seu respectivo monitor, teclado e mouse. Fones de ouvido e microfones posicionados, concentração total. No telão, mais uma batalha épica de LOL – League of Legends, o jogo mais jogado ao redor de todo o planeta. Esta partida, uma das semifinais de um torneio mundial, está sendo transmitida pela internet. Centenas de milhares de apaixonados torcedores acompanham cada detalhe...
AEEEEEEÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!!!!!!!
A torcida grita em uníssono. Emociono-me. Coisa boba, mas emociono-me. Multidões com objetivos comuns mexem comigo.
Tento acompanhar o jogo. São muitas coisas que acontecem simultaneamente. Não consigo. É como ver uma pancadaria geral entre dois times inteiros de futebol e ter que captar e entender cada lance. Há um painel central, que focaliza em detalhe apenas uma área do campo de batalha que, por sua vez, aparece totalmente no canto inferior direito, somente com as informações principais. Na parte inferior central constam dados do desempenho de cada um dos dez jogadores, com vários indicadores. Dependendo do personagem que se escolhe para jogar, variam-se muito os tipos de golpe. É uma chuva de informações! De repente ouço um “UUUUUU” gritado pela torcida atenta. Deve ter sido algum lance que passou perto, alguma coisa que por pouco não aconteceu. Só que eu não consegui ver nada! Para mim, mais parece explosões de fogos de artifício... Sou do tempo do Atari! Antes disso, brinquei com o tal Telejogo Philco! Duas barrinhas eram os jogadores e, no meio deles, uma bola que na verdade era um pequeno quadrado... Foi uma evolução fenomenal, de um lado a outro do universo. Não consegui me adaptar. É muita coisa pra processar, muitos botões ou teclas pra apertar. Não dá pra acreditar que a molecada faz tudo isso e ainda bate-papo, escrevendo mensagens para os outros jogadores em mais um setor que divide a tela já tão retalhada... Isso sem contar que também se comunicam verbalmente, com fones e microfones a postos! É demais! Mas pelo menos neste torneio mundial eles não estão digitando aquelas coisas cifradas entre si. A comunicação entre eles é apenas verbal. Lá no palco, sentado entre dois outros colegas de equipe, vejo o jovem coreano, pouco mais que uma criança, olhos pregados no monitor, a falar no microfone. Logicamente, não ouço o que ele diz, pois suas palavras são abafadas pelo agito da torcida e pela narração da partida. Isso mesmo, esqueci de dizer, afinal, não poderia faltar a figura do narrador, acompanhado de comentarista e tudo mais, para não perder em nada para os maiores confrontos futebolísticos. Sinceramente, acho até que esta torcida aqui é mais entusiasmada e apaixonada do que muitas por aí nos campos de futebol...
Sabe o que foi que eu fiz no meio disto tudo? Entrei na onda! Tentei entender o máximo que pude com o meu cérebro Atariano, estacionado nos videogames dos anos 80. Perguntei algumas coisas para o meu filho... A nossa torcida era para os coreanos. Aí então ele disse assim: “Pai, quando eu avisar, você dá aquele assobio!”.
FFFIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIUUUUUU
Não basta ser pai, tem que participar.