sábado, 18 de julho de 2015

MUNDO ESTRANHO


O mundo está ficando cada vez mais estranho, ou sou eu que estou ficando cada vez mais chato... Ou então mais distante da realidade, pois é assim que a gente começa a questionar a própria realidade, e passa a encontrar estranheza onde todos os outros acham normal.

Pois, veja bem, você não acha estranho que as pessoas quase não se falam mais? Quando meu celular toca no ônibus fretado, no caminho de volta para casa depois de um dia de serviço, e me vejo falando com minha esposa em meio aos colegas de transporte coletivo, todos eles quietos e absorvidos em seus celulares, trocando mensagens, jogando, navegando na internet, nas redes sociais, vendo e-mails ou vídeos, ouvindo músicas, enfim, fazendo tudo aquilo que é possível fazer com os celulares de hoje em dia além da sua função básica e teoricamente principal que é falar como telefone normal, pois bem, quando a minha fala rompe a barreira de silêncio do silencioso mundo virtual, aí então me sinto diferente... Diferente por usar o celular de maneira antiquada... Aliás, o meu celular é um exemplo concreto de antiguidade. Poderíamos dizer que é anterior à era dos smartfones, pois de “smart” não tem nada, é um autêntico “burrofone”. Sem internet, sem câmera, sem nada... Então, um dos sintomas da crescente estranheza do mundo atual é que as pessoas não se falam mais. Onde já se viu? Achar-se diferente, ou até sentir-se envergonhado por falar ao celular?

As pessoas vivem mais no mundo virtual do que no mundo real. Perdem tempo em construir perfis nas redes sociais, muitas vezes tão distantes de como realmente são...

Quando estão passeando ou se divertindo, preocupam-se mais em tirar fotos ou filmar – para logo registrar com algum comentário nas redes sociais – do que passear ou se divertir propriamente dito, ou seja, não vivem o momento presente, o mundo real, a vida e as pessoas de carne e osso que estão ao seu lado justamente naquele preciso instante...

Nos almoços, jantares, festas ou quaisquer outras reuniões sociais, ao invés de interagirem com aqueles que os cercam nos ambientes onde se encontram, mergulham em seus celulares, em uma alienação voluntária do mundo real. E aqueles que não mergulham nesta alienação, por sua vez também se sentem alienados, visto que se encontram abandonados, cercados por indivíduos isolados, cada qual com o seu celular na mão...

O motorista do fretado me pergunta: “Tem WhatsApp?”. Não, não tenho. Alguém do banco me liga, oferecendo um aplicativo que tornará minhas transações financeiras mais “seguras”. “Obrigado, meu celular não baixa aplicativos”. O vendedor de uma grande loja, depois de me dar algumas orientações técnicas sobre bombas d'água, percebendo que estou fazendo uma pesquisa de mercado, sugere: “Tire uma foto da etiqueta do produto”. Não dá, meu celular não tira fotos.

Dentro deste contexto, o estranho sou eu. No entanto, ainda acho que o mundo está muito estranho ultimamente. Só queria saber onde isto tudo vai dar... Você sabe?