sábado, 23 de setembro de 2017

BRASÍLIA SECA

Cheguei aqui em Brasília no pico da seca. Nas últimas três semanas a natureza vem testando a capacidade dos seres desta região viverem sem uma gota de umidade sequer. Mas eu estou participando desta experiência como uma espécie de intruso, afinal este teste deveria recair somente sobre esta espécie mais resistente que parece estar se formando sobre o planalto central... Mas falando a verdade, boa parte daqueles com os quais aqui conversei, mesmo sendo desta região ou aqui morando faz tempo, mesmo estes estão sofrendo.
Enquanto boa parte do Brasil se encontra seca, vítima de queimadas que destroem nossas matas, mais ao norte a natureza vai ao outro extremo, com furacões categoria cinco trazendo mortes, destruição e inundações para as ilhas do Caribe e sul dos Estados Unidos. Primeiro Irma, depois Maria. E, para completar o quadro que se abate sobre as três Américas, o México treme e sofre um de seus piores terremotos.
Mas o complemento final parece estar a cargo de dois loucos governantes. Se a natureza não cobrar de uma vez só a fatura de agressões sofridas pelo desprezível “ser humano”, em sua ganância cega por exploração e lucros infinitos, se a natureza der uma trégua e decidir nos poupar (pelo menos por enquanto...), então estes dois seres, com suas arrogâncias inconsequentes, poderão completar o serviço e levarem o mundo ao tão temido confronto nuclear. Quer saber de uma coisa? Essa guerra não é minha! Não vou me deixar contaminar. Ninguém deveria se contaminar. É só deixar esses dois sujeitos um em frente ao outro, em um ringue de box, dar um par de luvas para cada um, e deixar que resolvam a situação sozinhos...
Mas deixe eu voltar para a secura de Brasília. Ninguém tem nada contra dias bonitos. Aqueles dias em que não se vê um fiapinho sequer de nuvem. Perfeito! Perfeito para passar um dia, um fim de semana, um feriado prolongado, no máximo. Mas daí a termos uma sequência interminável de climas clones, exatamente iguais entre si, aí a coisa começa a apertar. Assoar sangue, congestionamento nasal, corpo dolorido, garganta pegando, pequenos calafrios, um pouco de febre e muita, mas muita tosse mesmo. Passei por vários sintomas. Fui ao médico duas vezes e tomei vários medicamentos. Agora estou bem melhor!
Ontem, após 123 dias sem chuva, vimos um chuvisco tímido na hora do almoço. Talvez até tenha sido tão pouco que não foi suficiente para interromper a contagem dos dias sem chuva. Mas foi uma experiência marcante! Até filmei o raro momento! Pode parecer exagero fazer tanta festa por poucas gotas d’água que conseguiram vencer a barreira seca que aqui nos rodeia. O pessoal daqui já está acostumado. Dizem que a chuva só costuma vir em outubro. Mas, para este paulista da Grande São Paulo, ver um pequeno chuvisco e, principalmente, sentir a umidade nas narinas e perceber que o ar voltou a sustentar... Ah, isso não tem preço!

sábado, 9 de setembro de 2017

IDIOSSINCRASIA

Faz algumas semanas que fiquei sabendo o significado de uma palavra que chega a meter medo, pelo seu tamanho, por parecer um palavrão ou um xingamento, enfim, sua sonoridade remete a coisas feias... Ei-la: idiossincrasia.
De certa maneira, fiquei envergonhado por descobrir o seu significado tão tardiamente. Principalmente porque chego a dizer que sou escritor... Mas que escritor é esse que não sabe o que é idiossincrasia? Onde já se viu?
É preciso dar uma dimensão para o “tão tardiamente”. Pois bem, estou com 52 anos. Mês que vem, 53. Escrevo desde os 19. Nesta longa e rarefeita carreira – pois preciso ganhar dinheiro (coisa que a literatura não proporciona) e também tenho que cuidar da vida – foram poucas as vezes que esta palavra surgiu diante de meus olhos ou meus ouvidos. E quando surge uma palavra deste tipo, a gente até se assusta e não quer saber de perguntar ou procurar o significado. Deixa pra depois, ignora, vê que conseguiu entender a coisa no geral, finge que sabe, atribui um significado qualquer que parece ser o mais adequado, e bola pra frente!
Mas, como disse, há algumas semanas foi inevitável. Estava eu lendo a consagrada obra do mundialmente famoso escritor de ficção científica, Isaac Asimov, obra esta intitulada “Eu, robô”, quando de repente ela surgiu. Desta vez não havia como escapar. O contexto não tornava claro o entendimento deste estranho vocábulo. Aliás, me parece que esta palavra não combina e fica descolada de qualquer contexto. Parece uma espécie de coringa, uma incógnita permanente. Mas eu tinha tempo. Voltava de uma longuíssima viagem de ônibus de Brasília a São Paulo. E tinha também, ao meu dispor, a tecnologia que nos invadiu nos últimos anos. Atualmente, com um celular na mão, estamos conectados com o mundo todo e podemos saber de quase tudo. Antigamente, quando esta palavra aparecia, o dicionário estava longe, e a vergonha de perguntar também era um fator que impedia o conhecimento. Mas agora não. Tinha a curiosidade de enfim desvendar o tão misterioso significado, tinha como fazer, facilmente, apenas teclando em meu celular, e também tinha tempo para fazer... E foi preciso mesmo certo tempo para entender os seus múltiplos significados, de acordo com o contexto na qual a mesma é usada.
Foram dias de descoberta, de superar limites. Descobri o significado de idiossincrasia, descobri Brasília, com sua arquitetura e construções que empolgam os olhos. Superei meu limite geográfico. Nunca antes havia atingido um lugar tão ao norte do planeta...
E agora estou novamente em Brasília, em um de seus shoppings, dentro de uma livraria, usando a mesa reservada para leitura, usando-a para escrever em um caderno, à moda antiga... Brincando de ser escritor... Mas vim aqui para trabalhar e ganhar dinheiro. A literatura, com suas palavras, assustadoras ou não, é apenas uma brincadeira... E por falar em brincadeira, você quer saber o significado de idiossincrasia? Ora essa, vá procurar!